quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O CHATO


 o chato


sentimento chato é o amor
ora faz a alma sorrir
ora faz o coração sentir dor

deveriam colar esta palavra
no meio do caderno
para não ficar andando por aí
causando tanto temor

BANHO DE POESIA




banho de poesia





eu e a chuva... a chuva e eu...
banho de poesia...
no quintal, no portão, na rua...
momento de ousadia.

AMOR PARALELO

amor paralelo



de um lado, majestoso sol
do outro, suave lua

num amor proibido
se olham de longe
na minha bela manhã
e também na sua

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

SUTIS RESPOSTAS AO LIVRO UNHAS VERMELHAS POÉTICAS (crônica)


Sutis Respostas ao livro Unhas Vermelhas Poéticas

     É interessante fazer uma análise e refletir sobre uma marca que naturalmente se fez: minhas unhas vermelhas. O livro Unhas Vermelhas Poéticas surgiu para homenagear a mulher e paralelamente fazer uma crítica ao machismo, ainda existente de uma  forma velada em nossa sociedade. Enquanto algumas mulheres procuram livrar-se dele lutando por seus direitos outras  absorvem a discriminação  por questão de conveniência ou de violência.

      O título do livro surgiu após observar que a cor vermelha nas unhas se fazia presente a cada momento de escrita dos meus poemas, talvez indiretamente já quisesse sentir e transmitir uma voz de autonomia e liberdade, pois escrever também é arte e como toda arte, a poesia também é livre, e somando a isso, a cor vermelha representar força e independência. Outra questão também é que muitas mulheres gostam dessa cor no dia a dia ou em ocasiões especiais. Logo, o título não poderia ser outro.

       No entanto, o livro em si tomou dimensões muito relevantes que não poderia eu, enquanto autora, deixar passar com indiferença. A princípio porque percebi que o livro, direcionado a um interlocutor adulto e feminino, começou a difundir com tamanha repercussão, assemelhando-se a um coro com grito de muitas vozes, deixando claro que há uma sensação e necessidade de pertencimento da mulher a um grupo  livre, real ou fictício. Isso demonstrado em suas ideias e atitudes.

      As respostas à leitura dos poemas vêm chegando, por isso é importante registrar este momento que com certeza influenciará outras respostas futuras mais irreverentes, ousadas e questionadoras sobre a mulher, no sentido de continuar a busca pelo respeito e valorização da essência feminina. Fatos como o da costureira que ao me atender em seu local de trabalho, mostrando-me suas unhas, agora pintadas de vermelho, e o mesmo acontecendo com uma advogada e uma dentista, chamaram a minha atenção. Como a sensibilidade do meu olhar sempre procura entender o que está além do que estou vendo e o meu sorriso busca o que há de belo além do sorriso da outra pessoa, procurei ouvir profundamente o que estava além das palavras também.

       Comento o relato de uma mulher de aproximadamente trinta anos que a partir da leitura do livro, passara a observar mais as suas mãos e que  passara a usar a mesma cor em suas unhas, mais interessante ainda foi ouvi-la contar sobre sua filha de doze anos que lê  o livro à noite antes de dormir, já se apropriando do mesmo. E, também, o comentário de uma pessoa da família sobre sua filha de nove anos que a todo momento, quietinha, pega o livro e vai ler os poemas em seu quarto. Reflito aqui: o que faz uma garotinha em seu mundo infantil/adolescente despertar para leitura de poemas destinados à mulher adulta?  Isso me instiga muito. Será que tem somente curiosidade ou há pequenos ensaios de se fazer uma nova história feminina? É de se pensar.

       Seguindo... mais adiante  uma mulher me contou que leu os poemas em voz alta fazendo questão de que o marido a ouvisse, achei engraçado;  uma avó  me disse que leu o livro com sua neta, e uma outra senhora me falou que emprestou seu exemplar para a sua comadre que queria ler. Mais e mais histórias chegando... e eu sentindo carinhosamente  suas palavras. Surpreendeu-me uma moça de vinte e poucos anos fotografar suas mãos sobre um poema e em seguida publicar a foto, mais vez minha cabeça foi longe: que palavra silenciosa foi dita naquele momento? E surpresa maior foi a mesma tão jovem me dizer que quando criança seu pai a proibia de passar esmalte vermelho, ora bolas, isso era comum na minha distante infância... quando cor vermelha nas unhas tinha conotação de mulher “da vida”,  mulher imoral que não poderia ser imitada, com o argumento de que “ é coisa feia, moça de família direita não pode usar isso, vermelho é para mulher que não presta e se você passar esse esmalte vai ficar mal falada também”, diziam os mais velhos da região onde eu morava..., hoje eu rio muito desses rótulos.

      Assim, as meninas e moças de minha época ouviam e tinham que obedecer, caso contrário apanhariam de cinto ou de cipó, do pai ou da mãe, também condicionada ao costume, vítima do preconceito repassado de mãe para filha, alienada às normas comportamentais de uma moral de exclusão da mulher, e de sua vida própria, cotada somente como posse de um senhorio e “boa pra casar”..., um sinal do machismo velado que passou e ainda passa desapercebido, deixando profundas marcas de aprisionamento. Outro caso interessante é o das senhora de setenta e três anos que não deixa de reservar horário no salão para a manicure  pintar suas unhas, que simbologia essas  unhas vermelhas de agora carregam? O que ocultam? Uma “liberdade ainda que tardia”? Por que só agora? E o antes, que histórias aconteceram até esse momento? Quais sonhos foram podados em nome de um rótulo de mulher direita? O que foi fadado à essa senhora que agora sorri prazerosamente  ao olhar para suas mãos? E as outras senhoras de sua idade que têm medo e vergonha desse “monstro” que ainda mora em seus pensamentos,  não permitindo a si mesmas nem em dias de festa colocar vida em suas mãos? Foi dado poder demais a um pequenino vidro de esmalte no passado.

      Encerro essas palavras com o olhar sobre as jovens que chegaram a mim, uma pedindo mais palavras e mais poemas  como se estivesse descobrindo novos caminhos, a outra apresentando suas unhas vermelhas, admirando-as. Estaria se identificando comigo ou com minhas palavras? E o que dizer de uma jovem que rapidamente ilustrou um poema e publicou-o nas redes sociais? E da outra jovem que fotografou a capa do livro ao lado de flores e enviou a foto para eu ver? Não sei, porém, é nítido que a sutileza de cada atitude e de cada palavra nas entrelinhas dizem muito mais do que sou capaz de  pensar ou escrever.