quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

SAUDADE



saudade 

vento que balança a flor
eu que balanço a rede
movimento de espera...

apenas os peixes no aquário
esperam felizes 
e matam sua sede

MINHA FUGA




minha fuga

voando lentamente no céu

em círculo

subindo
subindo

leve
na nuvem
leve
no azul

cada vez mais alto 
cada vez mais longe
fugindo de mim mesma
para aonde quer que seja 

PEDRADA

pedrada

o que ainda há pouco 
era palavra de ternura
machuca agora
feito pedra dura

e o coração mole de amor
se encolhe quietinho
num silêncio de dor 

JURAMENTO

Juramento

Eu juro

sentir a água e secar a mágoa
brincar de moleque e enganar o pivete

pintar a lua e correr na rua
lamber o mel e desenhar o céu

pisar na grama e me sujar na lama
ganhar o que mereço e rezar um terço

Eu juro

bater o sino e mudar meu destino
voar na valsa e me balançar na salsa

ser diferente e sonhar livremente
andar sem pressa e cumprir  

cada palavra  

dessa promessa


O MEDO



O MEDO...
assusta
machuca
fura
quebra
arranha
maltrata
dobra
e amassa
o coração da gente.

Ele
tampa
retarda
aprisiona
segura
sufoca
arrasa
amarra
e prende
o germinar da semente.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

ESCULTURA


Escultura

Não sei se sou argila do rio

Ou madeira envelhecida

Pedra escondida

Ou alegria de banquete

 

Não sei

De que mundo  faço parte

Se ainda tenho vida

Se minha pele ainda brilha

Se o sol em mim reflete

 

Só sei que lá no fundo

A terra seca se reparte

Uma suave mina em filete

No fino correr sussurra

Dizendo num segundo


Que da tristeza faço arte

CAVERNA VERDE (crônica)



Caverna  verde



          Era verão. Eu ainda bem criança e única menina, logo, brincadeira de moleque arteiro me fascinava. Fui para os fundos do grande quintal da casa de meus pais acompanhando meus irmãos, sendo um deles dois anos mais velho que eu e o outro um ano mais novo. Eu não sabia para onde eles estavam indo, no entanto, com apenas meus  sete anos e sem saber agir sozinha não me afastava deles. 


          Fomos por uma grande área de mato verde e grama alta, fiquei com medo e com razão porque naquele lugar eu  levara picada de  uma cobra e  as lembranças  não foram nada boas, (era um cobra pequena com listras largas nas cores vermelha e branca, lembro-me de minha mãe me colocando sobre um balcão azul de mercearia e apertando minha perna com o cinto do meu pai para que o veneno não se esparramasse pelo corpo, enquanto meu pai e os vizinhos procuravam a cobra pelo quintal. Depois que a mataram, colocaram-na dentro de um Jeep azul, no assoalho, enquanto eu a olhava, sentada no banco do carro a caminho do hospital. Lá fiquei sozinha por uma semana, em meio a injeções na coluna e enfermeiras bravas). 

           Nós passamos embaixo de um alto abacateiro que no período das frutas produzia abacates enormes, de cascas lisinhas e um verde escuro muito brilhante e viçoso, que só de vê-los já sentia vontade de comer com açúcar e limão, amassado com colher na própria casca. Próximo dali havia uma cerca de balaústre que para nós era altíssima, devido a nossa baixa estatura, no entanto, deveríamos pulá-la, o que não era nada fácil. Então, para facilitar, tiramos os chinelos e os jogamos para o outro lado da cerca , fomos firmando os pés na madeira porque estando descalço a aderência seria maior e não escorregaríamos. Eu subia com cuidado para não escorregar, caso contrário, entrariam ferpas de madeira nos pés e nas pernas.

            Ao chegar do outro lado com meus irmãos fiquei encantada com o verde das samambaias rústicas e enormes por toda parte. Eram muitas e lindas... eu me sentia um bichinho perdido na mata. Aos poucos, abríamos caminho no meio do mato ora com os pés e as mãos ora com pedaços de pau.



          O terreno nos parecia imenso ( quando se é criança tudo é muito grande) que despertava curiosidade e aguçava as ideias de aventuras: queríamos ter a nossa caverna. Ali o trabalho começou: quebramos muitos galhos na base procurando deixar as folhagens da parte de cima todas juntas, na ponta dos galhos para fazer sombra. Queríamos imitar as figuras das ocas que víamos nos livros deixando em formato de círculo e lentamente, após um longo tempo e muita arrumação aquele mato todo foi ganhando forma.

         Na parte interna, forramos o chão com pequenos galhos e muitas folhas verdinhas das árvores  para serem o geladinho tapete. Assim, nossa caverna ficou com muita sombra, verdinha e fresquinha, onde brincamos e fizemos piquenique. Nós a elegemos como lugar ideal para nos esconder  das broncas de nossos pais e fugir das tarefas domésticas... Só não contávamos que as folhas murchariam com o passar das horas nem com a pancada forte da chuva de verão  que caíra naquela tarde. Corremos de volta para casa e de longe avistamos a nossa linda caverna cair. Choramos.




quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

SILENCIADA VIAGEM



Silenciada Viagem




chegou o novo ano já cheio de falsas palavras e enganos
nadando contra a corrente calada debatendo em sua mente
a mulher sozinha observa a mesa na cozinha.

apenas dizem seus ouvidos que o silêncio ali é permitido,
não quer a solidão mas ela vem em calada mansidão
quebrando invisíveis cristais não vistos pelos demais.

espera apenas o tempo passar para sua paz reencontrar.
viaja ao sol lá fora para esquecer o minuto de agora,
encontra a esperada magia na pequena luz que se irradia,
atende ao pedido da flor para que volte sem rancor
e novamente olha para a mesa, sem dor nem tristeza.