domingo, 29 de setembro de 2013

NO CADERNO



No caderno

BEIJO


UMA FENDA

Uma fenda 

Por uma fenda
a incansável busca.

Escorrega nas pedras
se sustenta nas pedras.

Às costas,
o silêncio das trevas.

Calada, final da madrugada
se despede
da noite que assusta.

No caminhar,
na luz, um grito.

Gaivota se transforma.

Calada, na brisa roubada
voa
na paz do  infinito




sábado, 21 de setembro de 2013

MINHA POESIA ( crônica )

            

                Ando pela rua  sem me identificar com o que vejo , penso na minha poesia, poesia? Sim, na poesia porque sonho, porque vivo, porque gosto e ela torna meu mundo mais bonito, minha vida mais leve e me faz escrever, respirar e amar... O que espero? Não sei. Inquietações sempre me atormentam.. Quando vejo a poeira se abrandar no fundo do pote, inseguranças e incertezas vêm revolvendo a água e começa tudo novamente. Sorrio, afundo na água azul, vejo o fundo azul e descanso sozinha.

                Às vezes me canso de tanto caminhar, caminhar pra quê? Pra continuar vivendo. Mais um dia se foi. Mais uma história contada. Mais uma história vivida. E as minhas verdades? Meus desejos onde ficam? A poesia me consome, eu me perco em delírios, quase me desespero, mas é nela que eu me encontro, é  nas flores que conversam comigo, nos passos que respondem ao meu chamado, na vida que quero viver ou morrer.

               É complicado... escrever certinho para o mundo apreciar, escrever erradinho para desabafar, escrever erradinho para ousar. Respiro, espero o tempo passar, lentamente... mudanças me fizeram mudar... redundâncias...  lutas  me fizeram lutar, e eu quero amar, poetar, é assim que me vejo, eternamente amar. A quem? O quê? Onde? Por quê? Não sei. Só sei que reaprender é difícil, reviver é difícil, reaprender amar é difícil e este canto de palavras sentadas no papel é o que me resta do mundo, na mudança da vida.

               Choro. Choro sim porque é assim que sou verdadeira, meu sentimento fica  tão à vontade que nem pede licença a mim para se expressar. Palavras verdades, palavras banais. A poesia está  em mim até quando sou realista. Amo escrever, amo pensar, amo viver a palavra, meu encanto, meu sorriso, minha arte. Penso: o que será do meu amanhã quando estiver velhinha? Tenho medo da dor, não tenho medo da ruga, tenho medo do falso amor, tenho medo de viver num mundo falso. Mas o amanhã virá. Minha poesia continuará? Alguém chegará e entenderá meu poema? Sentirá comigo a mesma poesia? Sorrio mas tenho medo de enlouquecer, tornei-me  incrédula... Saudades tenho de quando brincava no barro mas eu cresci.

             Penso por qual razão a mentira está no mundo e dentro das pessoas, não quero pensar assim mas o que sou hoje é o resultado do que vivi, olho a pureza das  crianças e sinto vontade de viver seu mundo, pois é na simplicidade delas que encontro meu mundo verdadeiro mas eu cresci. Não gostaria de ter crescido. A menina sofre. A menina grita. A menina quer dormir para esquecer o hoje e acordar  amanhã muito leve, acreditando que terá mais um dia lindo, um mar à sua volta, um sorriso bonito de alguém que venha dizer bom dia.

                 Esperar a cada noite que o dia chegue e que mais um dia se vá no final da tarde não é poesia, é real e assusta. Quisera eu não saber de nada, apenas sentir e partilhar e dividir somente o sentimento bom, o sentimento puro, a leveza da vida  e do meu sorriso, sem maldade, apenas bondade em viver. Gostaria de poder acreditar no coração de todas as pessoas, mas não posso, somente a minha poesia pode, eu não... Meu canto, meu amigo, minha essência e meu sonho estão aqui, é aqui  que eu sou. Na minha poesia. Apenas sou.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

DESFAZENDO A BAGAGEM



Desfazendo a Bagagem

Despoetei meus mundos
Desamei meu amado
Desfolhei  meu livro
Desmorri de amor
Despensei em meu passado

Tirei  os  óculos embaçados
enxerguei a vida breve
queimei  os vestidos esfarrapados
a bagagem ficou leve

Não preciso mais
de adesivos colados
na velha mala sofrida
carrego agora toda minha vida

no miolo de uma margarida

domingo, 8 de setembro de 2013

MEU VELHO NOVO RIO



Meu velho novo rio



A vila tinha uma vila
Esta vila tinha um rio
Neste rio estava eu
E eu chorei

No meu silêncio com o rio
Procurei o velho rio dentro do rio
Procurei a mulher dentro desta mulher
Procurei a raiz
Procurei a paz

O rio que corre por debaixo do rio
Não é o rio que vejo
A mulher que vive dentro desta mulher
Não é a mulher que vê o  rio
E ainda é o mesmo rio
E ainda é a mesma mulher


Pisei nas pedras do rio
Toquei seu limo
Senti o cheiro de mato
Vi o reflexo do sol

Molhei meus pés
Molhei meu rosto

Quando a água quente dos meus olhos
Se uniu à água fria do rio
Toquei minha raiz
Vivi minha paz
Muito chorei

Reencontrei meu rio
Me reencontrei