sábado, 28 de dezembro de 2013
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
O CHATO
o chato
sentimento chato é o amor
ora faz a alma sorrir
ora faz o coração sentir dor
deveriam colar esta palavra
no meio do caderno
para não ficar andando por aí
causando tanto temor
BANHO DE POESIA
banho de poesia
banho de poesia...
no quintal, no portão, na rua...
momento de ousadia.
AMOR PARALELO
amor paralelo
de um lado, majestoso sol
do outro, suave lua
num amor proibido
se olham de longe
na minha bela manhã
e também na sua
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
SUTIS RESPOSTAS AO LIVRO UNHAS VERMELHAS POÉTICAS (crônica)
Sutis Respostas ao livro Unhas Vermelhas Poéticas
É interessante fazer uma análise e refletir sobre uma marca
que naturalmente se fez: minhas unhas vermelhas. O livro Unhas Vermelhas Poéticas surgiu para homenagear a mulher e
paralelamente fazer uma crítica ao machismo, ainda existente de uma forma velada em nossa sociedade. Enquanto
algumas mulheres procuram livrar-se dele lutando por seus direitos outras absorvem a discriminação por questão de conveniência ou de violência.
O título do livro surgiu após observar que a cor vermelha nas
unhas se fazia presente a cada momento de escrita dos meus poemas, talvez
indiretamente já quisesse sentir e transmitir uma voz de autonomia e liberdade,
pois escrever também é arte e como toda arte, a poesia também é livre, e
somando a isso, a cor vermelha representar força e independência. Outra questão
também é que muitas mulheres gostam dessa cor no dia a dia ou em ocasiões
especiais. Logo, o título não poderia ser outro.
No entanto, o livro em si tomou dimensões muito relevantes
que não poderia eu, enquanto autora, deixar passar com indiferença. A princípio
porque percebi que o livro, direcionado a um interlocutor adulto e feminino, começou
a difundir com tamanha repercussão, assemelhando-se a um coro com grito de muitas
vozes, deixando claro que há uma sensação e necessidade de pertencimento da
mulher a um grupo livre, real ou
fictício. Isso demonstrado em suas ideias e atitudes.
As respostas à leitura dos poemas vêm chegando, por isso é
importante registrar este momento que com certeza influenciará outras respostas
futuras mais irreverentes, ousadas e questionadoras sobre a mulher, no sentido
de continuar a busca pelo respeito e valorização da essência feminina. Fatos como
o da costureira que ao me atender em seu local de trabalho, mostrando-me suas
unhas, agora pintadas de vermelho, e o mesmo acontecendo com uma advogada e uma
dentista, chamaram a minha atenção. Como a sensibilidade do meu olhar sempre procura entender o
que está além do que estou vendo e o meu sorriso busca o que há de belo além do
sorriso da outra pessoa, procurei ouvir profundamente o que estava além das
palavras também.
Comento o relato de uma mulher de aproximadamente trinta anos
que a partir da leitura do livro, passara a observar mais as suas mãos e que passara a usar a mesma cor em suas unhas, mais interessante ainda foi ouvi-la
contar sobre sua filha de doze anos que lê o livro à noite antes de dormir, já se
apropriando do mesmo. E, também, o comentário de uma pessoa da família sobre
sua filha de nove anos que a todo momento, quietinha, pega o livro e vai ler os
poemas em seu quarto. Reflito aqui: o que faz uma garotinha em seu mundo infantil/adolescente
despertar para leitura de poemas destinados à mulher adulta? Isso me instiga muito. Será que tem somente
curiosidade ou há pequenos ensaios de se fazer uma nova história feminina? É de
se pensar.
Seguindo... mais adiante uma mulher me contou que leu os poemas em voz
alta fazendo questão de que o marido a ouvisse, achei engraçado; uma avó me disse que leu o livro com sua neta, e uma
outra senhora me falou que emprestou seu exemplar para a sua comadre que queria
ler. Mais e mais histórias chegando... e eu sentindo carinhosamente suas palavras. Surpreendeu-me uma moça de vinte e poucos anos fotografar suas
mãos sobre um poema e em seguida publicar a foto, mais vez minha cabeça foi longe: que palavra silenciosa foi dita naquele momento? E surpresa maior foi a
mesma tão jovem me dizer que quando criança seu pai a proibia de passar esmalte
vermelho, ora bolas, isso era comum na minha distante infância... quando cor
vermelha nas unhas tinha conotação de mulher “da vida”, mulher imoral que não poderia ser imitada, com
o argumento de que “ é coisa feia, moça de família direita não pode usar isso,
vermelho é para mulher que não presta e se você passar esse esmalte vai ficar
mal falada também”, diziam os mais velhos da região onde eu morava..., hoje eu
rio muito desses rótulos.
Assim, as meninas e
moças de minha época ouviam e tinham que obedecer, caso contrário apanhariam de
cinto ou de cipó, do pai ou da mãe, também condicionada ao costume, vítima do preconceito
repassado de mãe para filha, alienada às normas comportamentais de uma moral de
exclusão da mulher, e de sua vida própria, cotada somente como posse de um
senhorio e “boa pra casar”..., um sinal do machismo velado que passou e ainda
passa desapercebido, deixando profundas marcas de aprisionamento. Outro caso interessante é o das senhora de setenta e três
anos que não deixa de reservar horário no salão para a manicure pintar suas unhas, que simbologia essas unhas vermelhas de agora carregam? O que
ocultam? Uma “liberdade ainda que tardia”? Por que só agora? E o antes, que
histórias aconteceram até esse momento? Quais sonhos foram podados em nome de
um rótulo de mulher direita? O que foi fadado à essa senhora que agora sorri
prazerosamente ao olhar para suas mãos? E
as outras senhoras de sua idade que têm medo e vergonha desse “monstro” que
ainda mora em seus pensamentos, não
permitindo a si mesmas nem em dias de festa colocar vida em suas mãos? Foi dado
poder demais a um pequenino vidro de esmalte no passado.
Encerro essas palavras com o olhar sobre as jovens que
chegaram a mim, uma pedindo mais palavras e mais poemas como se estivesse descobrindo novos caminhos, a
outra apresentando suas unhas vermelhas, admirando-as. Estaria se identificando comigo
ou com minhas palavras? E o que dizer de uma jovem que rapidamente ilustrou um
poema e publicou-o nas redes sociais? E da outra jovem que fotografou a capa do
livro ao lado de flores e enviou a foto para eu ver? Não sei, porém, é nítido
que a sutileza de cada atitude e de cada palavra nas entrelinhas dizem muito
mais do que sou capaz de pensar ou
escrever.
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
POEMINHAS FAST FOOD
Amanhecer
Venha lindo sol, formoso guerreiro,
aquecer o minuto passageiro.
No alvo
O homem com arco e flecha procura acertar a felicidade
mas não percebe
mas não percebe
que ela está nas mãos do arqueiro.
De repente, o diferente pode ser igual,
já faz bem o que fazia mal
e metade pode ser inteiro.
Girar ao contrário
ser anti-horário
também faz acertar o ponteiro.
Receita
Congele o azul do céu
nas pupilas dos seus olhos
para enxergar somente
a beleza da vida
quando as manhãs cinzas
chegarem de surpresa.
Parceria
Há palavras
que não deveriam existir:
adeus, saudade, morte e dor,
então,
a caneta amiga
evapora sua tinta
ajudando o escritor
que se recusa
a colocar no papel
a triste cor.
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
CLIMATÉRIO (crônica)
Climatério ( à amiga Viviane Ardigo )
Verdade, juro
que é verdade. Na quinta-feira à noite fui ao centro da minha cidade, mais
especificamente na praça, como todos sabem...
é na praça que acontecem os eventos nas cidades do interior, e , como é
de costume, às quintas-feiras as pessoas lá comparecem para comprar sua
tapioca, seu bolo de mandioca e outros quitutes saborosos na famosa feira da
lua, além de encontrar os amigos.
Estava
eu andando com meu filho quando ouvimos alguém nos chamar, olhamos e vimos
nossa amiga Bibiana e seus dois filhos, Issa de dezoito anos e Mat de doze anos,
sentados à mesa próxima a uma barraca. Convidaram-nos para sentar e aceitamos.
Boa noite pra lá, boa noite pra cá, como vai tudo bem, histórias daqui e dali
até que a dona Bibiana me contou o seguinte:
_Dona
Bete, a senhora não imagina o que aconteceu comigo?
_Nossa! O
quê?
_Tenho
passado muito mal de saúde há um bom tempo.
_Sim, amiga
, o que foi?
_Sabe aqueles
calores que eu sentia? Resolvi procurar um endocrinologista e ele disse que
eu deveria fazer reposição hormonal, pois
já estava no climatério e quase na menopausa.
_Credo! Já?
Tão jovem ainda!_ comentei admirada.
_Pois é.
Só que os remédios começaram a me fazer muito mal e eu sentia muita dor na
barriga, sentia o estômago ruim e com muita dor e ficava mole mole toda tarde.
_E aí,
Bibiana, o que você fez?
_O doutor
disse que era normal o remédio dar muitas reações mas de tanto eu reclamar, ele
me encaminhou para um nutricionista e um gastro, pois meu estômago e meu fígado
poderiam estar com problemas, já que eu estava emagrecendo muito.
_Mulher do
céu! Quanta coisa, não?!
_É, dona Bete,
mas não parou por aí, não. Eu comecei a sentir muita dor nas costas também.
_ Vixiiii! Você
se benzeu? Só assim pra melhorar, não é mesmo?
_Que nada! O
gastro queria que eu fizesse endoscopia mas antes pediu para eu fazer
ultrassonografia do fígado e vesícula, ele disse poderia ter alguma pedrinha causando
tudo aquilo. Então, ele me encaminhou
para outra clínica para fazer o exame. E o tempo passando e eu muito
mal... eu já estava cansada de tanto
médico na minha frente.
_Entendo _
concordei. Mas tinha pedra no fígado? Na vesícula?
_Que nada!
Procuraram até pedra no rim e nada.
_Que horror!
Então o caso é grave, Bibiane?
_Pois é, dona
Bete, no final do exame veio o susto: o doutor disse que a pedrinha que ele encontrou tem
bracinho, perninha, terá nome e sobrenome e é uma menina. Estou grávida de
quase quatro meses...Bem que ontem à noite eu senti uma tremidinha na
barriga... achei que fossem gazes...
_Hummmm!!!!?????
Climatério... climatério...
domingo, 20 de outubro de 2013
ORAÇÃO AZUL
Oração Azul
Infinito universo, absorva a pura prece
Do meu doce verso neste dia que amanhece,
Procuro por sua bênção no azul deste céu
Com branco lenço a cobrir-me feito véu
Agradeço pelo meu coração matéria e sentimento
Que bate nesta oração ao azul firmamento,
Obrigada pela vida que em mim pulsa forte,
Por minha chegada ou partida, às vezes sem norte
Quero sentir-me mais espírito e menos humana
No que está escrito com o amor que emana,
Sem pobreza de carcaça envolta em panos
De anjo que me abraça
ou de pequeno ser mundano
Tiro aqui as sandálias apertadas dos meus pés
Sem acertos ou falhas, apenas com fé,
Peço para novamente eu
estar no útero do universo
Que a luz eu possa enxergar, ser sempre feliz, eu confesso
Quero ser só a essência da vida agora
Com minha simples existência poder ir embora,
Quero caminhar com leveza de silenciosa alma
Que encontra a beleza da
paz no azul que acalma
sábado, 12 de outubro de 2013
QUADROS PENDURADOS
Quadros Pendurados
Quadros pintados
Parados na parede
Penduram passagens
Dos tempos passados
Pesam por toda parte
Pedem por momentos
Que lhes foram tirados
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
CARNAVAL NA PRAIA (crônica)
Carnaval na praia
No
início de 2013 a família do meu ex-marido decidiu que iria passar o feriado de
carnaval em uma praia do Paraná. Tudo
estava bem organizado e programado. No entanto, um imprevisto aconteceu e dias
antes tive isquemia, um tipo meio bobo de AVC que apenas paralisa um lado do
corpo por alguns minutos sem rompimento de veia no cérebro, só que o tratamento
é o mesmo do danado AVC e tive que ficar
internada. Para a família foi um desespero só, até hoje não sei se foi por
minha saúde ou pela viagem que talvez seria
cancelada. Os dias se passaram e o susto
também.
Na
madrugadinha de sábado a família seguiu
viagem: sogro, sogra, cunhadas, cunhados, sobrinhos, sobrinhas, namorado de
sobrinha e duas crianças. Eu e meu ex fizemos a loucura de comemorar a
saída do hospital viajando também, porém, no final da tarde de sábado..
A família ficaria hospedada em uma pousada
de um conhecido meu por um precinho razoável. Chegando lá os parentes tiraram
todas as bagagens dos carros, equipamentos de praia e coisa e tal, felizes da
vida. Ao entrar nos quartos da pousada
depararam com os colchões embolorados, mofados e mal cheirosos dado à semana
inteira de chuva, inclusive o piso ainda
estava molhado pois o vidro de uma janela estava quebrado e foi fácil fácil
para a chuva entrar. Em seguida, deu-se início às reclamações, e é evidente que
meu querido nome ficou em destaque. Todos
ficaram no mesmo quarto que mais parecia quarto de exército: beliches pra todo
lado, uma vez que a pousada também hospedava excursão de alunos. A cozinha
então, nem se fala, sem privacidade e conforto para a cozinheira da família e
aí a continuidade de mais reclamações. E
meu nomezinho... . Resolveram então procurar outro lugar para ficar. Andaram na
chuva e à noitinha encontraram uma pequena casa a contento de todos, nos fundos
de outra residência onde morava a dona da casa. E mudança e pega bolsa daqui, pega mala dali e aí bagunça
total. Conta acertada, devolução de dinheiro. Outra casa. Família feliz. Crianças
felizes. Para lá foram todos...
Quando
meu marido e eu chegamos à noite todos estavam acomodados. Se a casa já era
minúscula para os que lá estavam, imagine como ficou após nossa chegada. Novas
adequações. Acertos com colchões no chão, cada casal em seu canto, cozinha virou
quarto, arrumações, barraca no quintal, chuva, frio e nada de calor na sonhada
praia... Hora de dormir mas antes, hora do banho e hora do susto, a água do
banheiro não descia pelo ralo, e vaso sanitário somente para a necessidade
líquida... tudo virou um faz de conta. Noite mal dormida.
No dia
seguinte, aconteceu o inesperado: a água do piso do banheiro havia aumentado o
seu volume e molhado alguns colchões, havia chegado no quarto e o mal cheiro
ficou insuportável. Então a coisa complicou: água de esgoto voltando e a gente
nauseando. A proprietária da casa foi
chamada e nada de resolver a situação... e esgoto voltando.. e a gente
nauseando... manhã... tarde e situação insustentável e insolúvel. Discussão com
a dona da casa, a família querendo sair e a dona da casa não querendo devolver
o dinheiro que já havia sido pago.
Chegou
o final da tarde de domingo e...
novamente outra procura por casa na praia e chuvinha e cara feia pra todo lado.
Debates, conversas, acordos: uma casa próximo dali foi alugada para nós. Novamente...
a mudança, agora feita a pé, bolsas, malas
e colchonetes carregados nas costas e barracas, cadeiras, guarda-sóis e mantimentos carregados nos braços e na
cabeça pela rua a fora... fila indiana, imitação de formiguinhas carregando
suas coisas. Para a nova casa.
O
tempo passou, chuvisco chegou e o grande domingo sem sol, sem praia. A noite
trouxe a maresia e ao longe o barulho da maré alta . O banho de mar ficara para
o dia seguinte.
A
segunda-feira amanhecera linda. Manhã de sol, toda a família feliz, banho de
mar, pés na areia, pulinhos nas ondas e alegria total. O dia foi longo mas passou
rápido também. A terça-feira de carnaval chegou e chegou também a hora de arrumar
a bagagem novamente para subir a serra.
Uma viagem de quase quatrocentos quilômetros de volta para casa foi feita com
um gostinho não muito bom de curtir carnaval na praia.
AI, SENHOR! (crônica)
Ai, Senhor!
Quando dona
Santana chegou em nossa casa, eu não estava. Foi num momento um tanto dolorido,
pode-se assim dizer, pois eu estava no hospital passando por uma cirurgia na
coluna lombar e quando saí de lá eu já a encontrei bem inteirada com o serviço
em minha casa.
Era a diarista
que viera me auxiliar durante uns
tempos, por indicação de uma prima, e eu
só fui conhecê-la depois do bonde andando, na minha convalescência. E que
convalescência! Dor, muita dor. Como diria meu finado pai : “Já era previsto”. As coisas iam seguindo seu ritmo: eu sem
andar e dona Santana lá, trabalhando. Uma senhora de uns sessenta anos, meio cheiinha, alta, branca, de cabelos
longos pintados de preto e sempre enrolados
feito coque, dentes meio pontudinhos para frente fazendo biquinho ao
falar, pessoa de confiança como se diz
na linguagem das patroas, no caso eu, compulsoriamente por força da situação.
Seu jeito de andar chamava sempre a atenção e não me lembro de um dia sequer não
tê-la visto andando com as mão nas costas. Aí me preocupei. Eu daquele jeito e
ela também com semelhante problema, pensei, pensei, fiquei com aquilo na minha cabeça: “E agora?”, até que perguntei se
ela sofria de alguma doença na região lombar
e dona Santana, sempre puxando o “r” do falar costumeiro do interior, respondeu
que não, que era costume mesmo.
Tudo ia bem, pelo menos eu achava. Os dias
foram passando e cada vez que ela chegava no portão já implicava com o latido
da cachorra e a recíproca era verdadeira. Como eu ia dizendo, ela era
engraçada, a mesma cena todos os dias, com as mãos nas costas e implicando com
a cachorra a tal ponto que meu dog, como é próprio da raça, usou de seu
instinto de defesa e caça: atacou-a por trás mordendo seu calcanhar, a briga
era até bonita de se ver não fosse meu
estado. Eu fui ficando numa situação difícil pois tinha que sair da cama com
dor para separar a briga de dona Santana com uma poodle toy, já idosa também.
Lá ia dona Santana: limpava a casa e
reclamava da vida toda vez que via alguém se aproximando, repetindo sempre “Ai, Senhor”. Interessante
foi quando ela invocou que tinha que rezar por mim, para curar a minha dor e me
recuperar logo, sair daquele estado,
enfim. Só me recordo que foi água benta pra cá, água benta pra lá... e eu tomei
tudo, confesso, tudinho, senão ela ficava muito brava. Acamada eu continuava.
Num outro dia
ela cismou com meu filho rapaz. Dizia-lhe
que tinha que “estar com o Senhor”, e
falou “Ai, Senhor, você tem que rezar, vou marcar para você ir no retiro de
oração, vai ser bom, tem que se abençoar, é só três dias rezando “, como era de
se esperar, no dia seguinte trouxe a ficha de inscrição, montou guarda, não deu
trégua, e ele foi... “Ai, Senhor”.
Começamos a
perceber que ela não tomava o café da manhã quando chegava para trabalhar, perguntamos
o porquê e ela disse que tinha o seu, não
acreditamos mas para nossa surpresa dona Santana carregava uma micro garrafa de
café e tomava o seu às escondidas várias
vezes por dia, até hoje não consegui entender o porquê daquela atitude, mas ...“Ai,
Senhor”.
Esta senhora trabalhava
em várias casas, segundo dona Santana porque se
ficasse em uma só casa se cansria de ver as
mesmas pessoas todos os dias e também porque precisava de mais dinheiro, mesmo sendo
aposentada e o marido idem, porém, os remédios eram caros, alegava.. Com o
tempo passou a chegar mais tarde e cada
vez mais tarde, mais briga com a cachorra, mais
mãos nas costas e mais “Ai,
Senhor”. Acontece que quando dava seis
horas da tarde ela ficava apavorada por não ter
concluído o serviço, contudo, não poderia jamais chegar atrasada para a
missa das sete e meia, caso contrário, não seria abençoada para trabalhar no
dia seguinte. Compreendemos dado à idade e
blá ... blá...blá... Diante de tanto apavoramento, alguém sempre a
levava de carro até a igreja que ficava
próxima a sua casa, e é lógico, ela com
o dinheiro da passagem de volta pago e dentro da bolsa... “Ai, Senhor”.
O tempo
foi passando e a rotina da dona Santana também. Foi ficando divertido. Não nos incomodávamos
mais. No entanto, surpresa maior aconteceu quando ela pediu para trocar o dia
da faxina para toda quarta –feira. Pedido aceito, de “comum acordo de ambas as
duas partes entre as duas pessoas conforme o combinado”, disse dona Santana. Começamos a perceber que
novamente à mesa ela não nos acompanhava, no café da manhã já havíamos compreendido, mas durante o almoço?!! Novas investigações...novas perguntas... novas surpresas... “Ai, Senhor, eu faço jejum toda
quarta-feira e eu não almoço por nada neste mundo do Senhor” , novas
contestações familiares também: “olha sua saúde, isso não tá certo, sua idade
merece uma boa alimentação “ e por aí vai ... Sua resposta foi rápida: “Ai, Senhor... se eu
fizer jejum o Senhor vai me abençoar pra trabalhar”... assim foi... mais um reforço na rotina previamente
instalada, até que um dia a coisa desandou, como disse a própria dona Santana.
Nossa faxineira passou um dia inteiro “sem
pôr nada no estômago, nada desta vida, nem um taquinho assim” e a danada da
pressão baixou fazendo-a cair feio perto da máquina de lavar roupa, ficando muito
brava: “Ai, Senhor, ai minhas costas...” e mais delongas que o meu querido
leitor já deve imaginar.
Dali em
diante a cena era até cômica, eu sem conseguir fazer nada e dona Santana com as
mãos nas costas agora também sem conseguir fazer nada e realmente com um problema na coluna. Alguns dias se passaram e a
situação ficou meio sem jeito, e, “Ai, Senhor”, aí perdi dona Santana.
CONVERSA NO HOSPITAL ( crônica)
Conversa no hospital
Aconteceu que eu estava em um quarto de hospital acompanhando meu pai Eli em seu internamento, que devido à idade avançada ele não poderia ficar sem acompanhante. Calada, sentada numa cadeira no canto do quarto, ao lado de uma mesa branca fiquei, nela havia uma jarra de vidro com água e próximo havia um copo também de vidro. Fiquei a observar meu pai e observar o paciente ao lado, também idoso, que dormiam tranquilamente. Em ambos, frascos de soro fisiológico aplicados no braço. Depois de muito tempo de silêncio, acordaram e a conversa começou como se eu não estivesse ali, como se fizesse parte da composição dos móveis do ambiente, em sintese, ignoraram minha presença. Fiquei olhando para os dois...
_ Bom dia.
_ Bom dia.
_ Meu nome é Eli e o do sinhô?
_ Raimundo.
_ Cheguei aqui antonte.
_ Tumém.
_ O sinhô é baiano?
_ Eu sô. E o sinhô?
_Tumém.
_ Mora onde?
_ Nessa cidade mesmo e o sinhô?
_ Faxinal.
_ Tá doente de quê?
_ Coração, pressão alta, diabete, colesterol alto, o dotô disse. E o sinhô?
_ Coração, pressão alta, diabete, colesterol alto, o dotô disse tumém.
Naquele momento, a enfermeira chegou, deu comprimidos e aplicou injeção nos dois. Dormiram novamente durante uma hora, aproximadamente, e, ao acordar...
_ Bom dia.
_ Bom dia.
_ Meu nome é Eli e o do sinhô?
_ Raimundo.
_ Cheguei aqui antonte.
_ Tumém.
E a memória...
VIDA BREVE ( crônica)
Mais um pedaço de mim foi cortado. A dor é muito grande. O ar não existe para eu respirar. Morte em vida. Arrasta-me mesmo eu estando em pé. Sorrir ao mundo e gritar de desespero na alma. Um sonho que durou pouquinho. Uma vida que viveu curtinha. Uma flor que murchou tão depressa. Era linda, brilhava para o mundo, flutuava nas estrelas, sorria, cantava, acreditava na beleza e no perfume. E murchou. Quebraram suas hastes. Eu deixei. Ela sofreu e eu me quebrei.. Minha flor que nasceu , viveu pouqunho tempo mas foi feliz. Se a grande felicidade do pequeno momento vai fazê-la superar tempestade que se forma com nuvens cinzas e se restará algum pequenino broto para a nova fotografia, só o tempo dirá. Ela chora. Ela chora. Ela chora demais. Lágrimas no sol, lágrimas na chuva. O desespero toma conta , calado.. Dói e grita a dor do pedaço arrancado.
O ANJO BOM ( crônica)
O Anjo Bom
Na viagem da vida eu seguia forte e leve com meus companheiros e achava que os teria ao meu lado para sempre. Acreditávamos nos mesmos sonhos, partilhávamos das mesmas histórias, ríamos juntos e chorávamos juntos.
Um dia, sem recado nem aviso ou placa, tive que descer bruscamente desse vagão de sonhos e realidades, tive que descer na estação e ficar ali sentada por longo tempo sozinha. Olhei para o horizonte e não havia ninguém nem sol. Sobre minha cabeça, as gotas do orvalho da noite que escorriam pelo beiral, pingavam em meus cabelos longos sem vida, murchos de tristeza já sem vaidade alguma. As gotas que escorriam pelo telhado escorriam pelo meu rosto, geladamente. Tudo parou. Não sabia mais andar nem falar. Meu corpo frio estava apenas encolhido no banco de madeira. Como doeu aquele momento! Os companheiros estavam tão longe que não ouviam o meu grito de dor ou meu pedido de ajuda. O trem não esperou. Ele se foi e foi cada vez mais longe, apressadamente sumindo por entre a mata, as montanhas e as nuvens.
Assim, procurei as flores de que tanto gostava ver à beira do caminho e não as vi, não havia nenhuma ali. O silêncio invadiu minha alma. Chorei. Chorei muito. Chorei tanto que pensava ser infinito aquele momento de morte. Parada, meditei e esperei pois as forças haviam ido embora na curva do caminho lá longe, no trem. A estação me prendeu, me amarrou com correntes fortes e invisíveis. Sofri.
Depois de muito estar ali, ouvi um barulho ao meu lado. Olhei e nada vi. Novamente o barulho se repetiu e então delicadamente um Anjo sentou-se à minha esquerda . Aproximou-se mais. Docemente segurou a minha mão, soprou meu coração e beijou meus pés. Envolveu-me com todo o carinho de suas asas e colocou-me em pé. Às vezes ele era branco, às vezes era negro, outras vezes azul, rosa e amarelo. Ficou calado. Nada disse. Ficou a me olhar por um bom tempo. Transbordava ternura... Caminhamos ali por um tempo curto e longo, trouxe-me flores no pensamento, trocamos palavras mudas, sorrisos gostosos e olhares puros. Então, eu já não mais andava, bailava no ar... Perguntas na mente me incomodavam. Queria eu saber de onde o Anjo viera. Por quê? Para quê?. Estivera ali para eu me sentir forte para a nova viagem? Não sei. Mistério. Só sei que ele me ensinou a andar novamente de outro jeito e por outro caminho, sentindo o coração batendo nos dois lados do peito... Enxerguei um caminho diferente, porém, bonito e com outras flores que eu poderia vê-las e colhê-las. No entanto, ele se foi, partiu tão discretamente com o brilho da primeira estrela do anoitecer que mal pude ver seu vulto se levantando. Percebi isso porque senti um movimento suave ao meu lado e um leve bater de asas se afastando...sem barulho algum, baixinho, baixinho e depois para o alto se foi..
Por muito tempo pensei nos sinais silenciosos de sua chegada e de sua partida.Tempos depois aproximou-se um novo trem. Segui nele por outro caminho, o caminho que o Anjo mostrara para eu viver e contar a minha outra história. Entendi naquele momento que havia chegado a minha hora de voar. Tornei-me um Anjo também.
Ivete Luz
Assim, procurei as flores de que tanto gostava ver à beira do caminho e não as vi, não havia nenhuma ali. O silêncio invadiu minha alma. Chorei. Chorei muito. Chorei tanto que pensava ser infinito aquele momento de morte. Parada, meditei e esperei pois as forças haviam ido embora na curva do caminho lá longe, no trem. A estação me prendeu, me amarrou com correntes fortes e invisíveis. Sofri.
Depois de muito estar ali, ouvi um barulho ao meu lado. Olhei e nada vi. Novamente o barulho se repetiu e então delicadamente um Anjo sentou-se à minha esquerda . Aproximou-se mais. Docemente segurou a minha mão, soprou meu coração e beijou meus pés. Envolveu-me com todo o carinho de suas asas e colocou-me em pé. Às vezes ele era branco, às vezes era negro, outras vezes azul, rosa e amarelo. Ficou calado. Nada disse. Ficou a me olhar por um bom tempo. Transbordava ternura... Caminhamos ali por um tempo curto e longo, trouxe-me flores no pensamento, trocamos palavras mudas, sorrisos gostosos e olhares puros. Então, eu já não mais andava, bailava no ar... Perguntas na mente me incomodavam. Queria eu saber de onde o Anjo viera. Por quê? Para quê?. Estivera ali para eu me sentir forte para a nova viagem? Não sei. Mistério. Só sei que ele me ensinou a andar novamente de outro jeito e por outro caminho, sentindo o coração batendo nos dois lados do peito... Enxerguei um caminho diferente, porém, bonito e com outras flores que eu poderia vê-las e colhê-las. No entanto, ele se foi, partiu tão discretamente com o brilho da primeira estrela do anoitecer que mal pude ver seu vulto se levantando. Percebi isso porque senti um movimento suave ao meu lado e um leve bater de asas se afastando...sem barulho algum, baixinho, baixinho e depois para o alto se foi..
Ivete Luz
SEGUREM O AMOR !
Segurem o amor!
segurem, por favor, mais um pouco
aquele momento que não pode ir embora
não deixem se despedaçar no ar
não deixem se despedaçar no tempo,
parem aquele instante.
não o deixem ir embora, por favor,
cada gesto vivido com paixão
cada palavra dita com amor
cada voar na imensidão.
segurem, por favor, mais um pouco
o sopro no ouvido,
o olho no olho,
o desejo suado,
o enrosco de pernas,
o sorriso de paz,
o calor doado.
prendam ali, por favor,
o carinho que foi dado,
o corpo todo que foi beijado,
a beleza que foi sentida,
a doçura vivida.
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
domingo, 29 de setembro de 2013
UMA FENDA
Uma fenda
a incansável busca.
Escorrega nas pedras
se sustenta nas pedras.
Às costas,
o silêncio das trevas.
Calada, final da madrugada
se despede
da noite que assusta.
No caminhar,
na luz, um grito.
Gaivota se transforma.
Calada, na brisa roubada
voa
na paz do infinito
sábado, 21 de setembro de 2013
MINHA POESIA ( crônica )
Ando pela rua sem me identificar com o que vejo , penso na minha poesia, poesia? Sim, na poesia porque sonho, porque vivo, porque gosto e ela torna meu mundo mais bonito, minha vida mais leve e me faz escrever, respirar e amar... O que espero? Não sei. Inquietações sempre me atormentam.. Quando vejo a poeira se abrandar no fundo do pote, inseguranças e incertezas vêm revolvendo a água e começa tudo novamente. Sorrio, afundo na água azul, vejo o fundo azul e descanso sozinha.
Às vezes me canso de tanto caminhar, caminhar pra quê? Pra continuar vivendo. Mais um dia se foi. Mais uma história contada. Mais uma história vivida. E as minhas verdades? Meus desejos onde ficam? A poesia me consome, eu me perco em delírios, quase me desespero, mas é nela que eu me encontro, é nas flores que conversam comigo, nos passos que respondem ao meu chamado, na vida que quero viver ou morrer.
É complicado... escrever certinho para o mundo apreciar, escrever erradinho para desabafar, escrever erradinho para ousar. Respiro, espero o tempo passar, lentamente... mudanças me fizeram mudar... redundâncias... lutas me fizeram lutar, e eu quero amar, poetar, é assim que me vejo, eternamente amar. A quem? O quê? Onde? Por quê? Não sei. Só sei que reaprender é difícil, reviver é difícil, reaprender amar é difícil e este canto de palavras sentadas no papel é o que me resta do mundo, na mudança da vida.
Choro. Choro sim porque é assim que sou verdadeira, meu sentimento fica tão à vontade que nem pede licença a mim para se expressar. Palavras verdades, palavras banais. A poesia está em mim até quando sou realista. Amo escrever, amo pensar, amo viver a palavra, meu encanto, meu sorriso, minha arte. Penso: o que será do meu amanhã quando estiver velhinha? Tenho medo da dor, não tenho medo da ruga, tenho medo do falso amor, tenho medo de viver num mundo falso. Mas o amanhã virá. Minha poesia continuará? Alguém chegará e entenderá meu poema? Sentirá comigo a mesma poesia? Sorrio mas tenho medo de enlouquecer, tornei-me incrédula... Saudades tenho de quando brincava no barro mas eu cresci.
Penso por qual razão a mentira está no mundo e dentro das pessoas, não quero pensar assim mas o que sou hoje é o resultado do que vivi, olho a pureza das crianças e sinto vontade de viver seu mundo, pois é na simplicidade delas que encontro meu mundo verdadeiro mas eu cresci. Não gostaria de ter crescido. A menina sofre. A menina grita. A menina quer dormir para esquecer o hoje e acordar amanhã muito leve, acreditando que terá mais um dia lindo, um mar à sua volta, um sorriso bonito de alguém que venha dizer bom dia.
Esperar a cada noite que o dia chegue e que mais um dia se vá no final da tarde não é poesia, é real e assusta. Quisera eu não saber de nada, apenas sentir e partilhar e dividir somente o sentimento bom, o sentimento puro, a leveza da vida e do meu sorriso, sem maldade, apenas bondade em viver. Gostaria de poder acreditar no coração de todas as pessoas, mas não posso, somente a minha poesia pode, eu não... Meu canto, meu amigo, minha essência e meu sonho estão aqui, é aqui que eu sou. Na minha poesia. Apenas sou.
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
DESFAZENDO A BAGAGEM
Desfazendo a Bagagem
Despoetei
meus mundos
Desamei
meu amado
Desfolhei
meu livro
Desmorri
de amor
Despensei
em meu passado
Tirei
os óculos embaçados
enxerguei
a vida breve
queimei
os vestidos esfarrapados
a
bagagem ficou leve
Não
preciso mais
de
adesivos colados
na
velha mala sofrida
carrego
agora toda minha vida
no miolo
de uma margarida
domingo, 15 de setembro de 2013
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