sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

CAVERNA VERDE (crônica)



Caverna  verde



          Era verão. Eu ainda bem criança e única menina, logo, brincadeira de moleque arteiro me fascinava. Fui para os fundos do grande quintal da casa de meus pais acompanhando meus irmãos, sendo um deles dois anos mais velho que eu e o outro um ano mais novo. Eu não sabia para onde eles estavam indo, no entanto, com apenas meus  sete anos e sem saber agir sozinha não me afastava deles. 


          Fomos por uma grande área de mato verde e grama alta, fiquei com medo e com razão porque naquele lugar eu  levara picada de  uma cobra e  as lembranças  não foram nada boas, (era um cobra pequena com listras largas nas cores vermelha e branca, lembro-me de minha mãe me colocando sobre um balcão azul de mercearia e apertando minha perna com o cinto do meu pai para que o veneno não se esparramasse pelo corpo, enquanto meu pai e os vizinhos procuravam a cobra pelo quintal. Depois que a mataram, colocaram-na dentro de um Jeep azul, no assoalho, enquanto eu a olhava, sentada no banco do carro a caminho do hospital. Lá fiquei sozinha por uma semana, em meio a injeções na coluna e enfermeiras bravas). 

           Nós passamos embaixo de um alto abacateiro que no período das frutas produzia abacates enormes, de cascas lisinhas e um verde escuro muito brilhante e viçoso, que só de vê-los já sentia vontade de comer com açúcar e limão, amassado com colher na própria casca. Próximo dali havia uma cerca de balaústre que para nós era altíssima, devido a nossa baixa estatura, no entanto, deveríamos pulá-la, o que não era nada fácil. Então, para facilitar, tiramos os chinelos e os jogamos para o outro lado da cerca , fomos firmando os pés na madeira porque estando descalço a aderência seria maior e não escorregaríamos. Eu subia com cuidado para não escorregar, caso contrário, entrariam ferpas de madeira nos pés e nas pernas.

            Ao chegar do outro lado com meus irmãos fiquei encantada com o verde das samambaias rústicas e enormes por toda parte. Eram muitas e lindas... eu me sentia um bichinho perdido na mata. Aos poucos, abríamos caminho no meio do mato ora com os pés e as mãos ora com pedaços de pau.



          O terreno nos parecia imenso ( quando se é criança tudo é muito grande) que despertava curiosidade e aguçava as ideias de aventuras: queríamos ter a nossa caverna. Ali o trabalho começou: quebramos muitos galhos na base procurando deixar as folhagens da parte de cima todas juntas, na ponta dos galhos para fazer sombra. Queríamos imitar as figuras das ocas que víamos nos livros deixando em formato de círculo e lentamente, após um longo tempo e muita arrumação aquele mato todo foi ganhando forma.

         Na parte interna, forramos o chão com pequenos galhos e muitas folhas verdinhas das árvores  para serem o geladinho tapete. Assim, nossa caverna ficou com muita sombra, verdinha e fresquinha, onde brincamos e fizemos piquenique. Nós a elegemos como lugar ideal para nos esconder  das broncas de nossos pais e fugir das tarefas domésticas... Só não contávamos que as folhas murchariam com o passar das horas nem com a pancada forte da chuva de verão  que caíra naquela tarde. Corremos de volta para casa e de longe avistamos a nossa linda caverna cair. Choramos.




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