sexta-feira, 5 de junho de 2015

MURILO BEIJA-FLOR ( CRÔNICA)


Murilo Beija-flor (CRÔNICA)
Saindo da antiga casa de meus pais onde fui passar o feriado de Corpus Christi, na zona rural, lugar onde os pinheiros não têm galhos e sim braços para abraçar o céu azul do outono, e as borboletas brancas e amarelas  não têm asas para voar, porém, pontas dos pés para bailar sobre as flores vermelhas,  que me observam, encostadas do muro da casa ao sol do meio dia, vi um garotinho com sua bicicleta vermelha. A princípio pensei que estivesse somente de passagem, no entanto, parou de um jeito faceiro perto do carro onde eu me encontrava. Magro, de olhar lindo com longos cílios, de sorriso puro e leve, começou a conversar comigo. Era Murilo, neto de minha prima Nair, que carinhosamente a chamamos de  Nega

_ Oi, querido, tudo bem?
_ Tudo bem, eu vim te falar  "oi".
_ Tá bom, então. Você pode fazer um favor para mim? Leve de presente para sua  avó, este livro de poesias que eu escrevi.
_ Não adianta, não, eu quase não vejo minha avó ler...
_ Ah, tá... Mas se você levar,,  com certeza ela vai ler.
_ Não, não vai, não. Porque eu é que gosto de ler. Minha mãe encomendou um livro do "Netuno", do mar, em uma revistinha mas tá demorando muito pra chegar, acho que já faz uns dois anos! Mas eu gosto de poesia também...
_ Hum... Dois anos... Está demorando muito mesmo. Entendi.
_ E quando eu acabo a tarefa na escola, eu gosto de ler mas a professora não tem livros pra me dar.
_ E se eu lhe der este livro, você pode levar à escola para ler quando terminar as tarefas.
_ Não, não posso, hoje não tem aula por causa do feriado de ontem.
Rapidamente pensou e já respondeu, abrindo aquele sorrisão de felicidade que só as crianças sabem fazer:
_ Mas eu posso ler em casa! Tô de bicicleta mas eu consigo segurar o livro com uma mão e guiar com a outra, sem cair.
_ Verdade?! Então vou resolver.

Peguei o livro em minha sacola, fiz a dedicatória e entreguei-lhe. Quando  leu o que escrevi: " Ao querido primo Murilo, com carinho", ele seguiu rua abaixo em disparada para sua casa, voando feito um livre beija-flor, pedalando a bicicletinha vermelha e segurando o livro na mão esquerda.

Ivete Luz


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